Desigrejados: Um Desafio e uma Oportunidade para a Igreja

 


Ex-evangélicos e a Desigrejização: Um Desafio para a Igreja Contemporânea

Publicado em: 11 de abril de 2025 | por Geoeskatos

O fenômeno dos "Desigrejados" — também chamado de Exvangelical Movement — tem ganhado cada vez mais visibilidade no Brasil e no mundo. Trata-se de um grupo crescente de pessoas que, embora tenham uma formação ou vivência evangélica, decidiram se afastar das igrejas institucionais. O movimento é especialmente forte entre jovens e adultos que se sentem feridos, desiludidos ou desconectados da estrutura e da cultura de suas antigas comunidades de fé.

Por que tantos estão saindo?

Entre os motivos mais comuns estão:

  • Experiências de abuso espiritual, moral ou emocional;

  • Legalismo e moralismo extremos;

  • Posturas políticas incompatíveis com os valores do evangelho;

  • Falta de acolhimento a minorias e pessoas em sofrimento;

  • Ausência de espaço para perguntas, dúvidas e diálogo honesto;

  • Institucionalismo eclesiástico excessivo e distanciamento da realidade.

No Brasil, dados da pesquisa “Religião e Sociedade” divulgada pela Fundação Perseu Abramo (2023) indicam que 27% dos evangélicos brasileiros se consideram “fora de uma igreja institucional”, mesmo mantendo crenças cristãs. Isso representa milhões de pessoas em busca de fé, mas fora das estruturas convencionais.

Caminhos para Reconexão

Diante desse cenário, líderes e igrejas precisam repensar não apenas métodos, mas posturas. Eis alguns caminhos possíveis:

1. Escuta genuína e não defensiva

Muitos Desigrejados não querem respostas prontas, mas um espaço para serem ouvidos sem julgamento. Base bíblica:

  • Tiago 1:19 – “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar...”

  • Romanos 12:15 – “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram.”

  • Gálatas 6:1 – “Se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão...”

2. Ambientes seguros emocionalmente

Criar igrejas que cuidam da saúde mental, acolhem fragilidades e rejeitam a cultura da performance espiritual. Base bíblica:

  • Isaías 42:3 – “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega.”

  • Mateus 11:28-30 – “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados...”

  • Salmos 34:18 – “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado.”

3. Transparência e humildade pastoral

Reconhecer erros, pedir perdão por abusos passados e abrir espaços para diálogo franco sobre autoridade. Base bíblica:

  • Tiago 5:16 – “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros...”

  • 1 Pedro 5:3 – “Não como dominadores dos que vos foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho.”

  • Provérbios 28:13 – “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará...

4. Desinstitucionalização parcial

Estimular experiências cristãs fora do templo — em casas, cafés, comunidades digitais e projetos sociais. Base bíblica:

  • Atos 2:46 – “Partiam o pão de casa em casa...”

  • Romanos 16:5 – “Saudai também a igreja que está na casa deles.”

  • Mateus 18:20 – “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome...”

5. Envolver os jovens nos trabalhos da igrejas 

Incluir suas vozes nos espaços de decisão, criatividade e liderança. Base bíblica:

  • 1 Timóteo 4:12 – “Ninguém despreze a tua mocidade...”

  • Joel 2:28 – “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão...”

  • Salmos 8:2 – “Da boca das crianças e dos que mamam tiraste o perfeito louvor...”


Análise Crítica: Acomodação ou ferida legítima?

O crescimento dos desigrejados também levanta uma questão desconfortável: será que parte desse fenômeno não revela uma tendência de acomodação espiritual? Assim como há os “católicos não praticantes”, muitos se perguntam se os ex-evangélicos estariam se afastando da igreja apenas para evitar o compromisso com a vida comunitária e a disciplina da fé cristã.

A resposta, porém, não é simples. Sim, alguns casos refletem fuga de responsabilidade, o que vai de encontro a textos como Hebreus 10:25 — “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns...”. Por outro lado, muitos se afastam feridos, cansados e decepcionados, com críticas legítimas a contextos abusivos, dogmatismo excessivo ou alianças políticas comprometedoras.

Cabe à igreja discernir com sabedoria cada caso, não com julgamento, mas com empatia e verdade. O desafio é oferecer um cristianismo coerente, relevante e comunitário — que una convicção com compaixão.


Conclusão: Curar Feridas, Reconstruir Pontes

Mais do que simplesmente "trazer de volta" os Desigrejados, o grande chamado das igrejas no século XXI é o de curar feridas, reconstruir pontes e encarnar uma fé coerente com o evangelho de Cristo. Uma igreja que ouve, acolhe, discipula com paciência e anda junto. Uma igreja que pede perdão onde errou, que não teme o diálogo e que caminha em humildade.

Ao enfrentar o fenômeno da desigrejização com amor, verdade e relevância, a igreja não apenas poderá recuperar os que se foram, mas também se renovar — e talvez reencontrar o seu verdadeiro chamado: ser o Corpo vivo de Cristo no mundo.


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