Por Que Falta Cooperativismo no Mundo Cristão?

 
A Estranha Resistência do Crente em Comprar do Próprio Irmão

Apesar de o cristianismo nascer de uma proposta profundamente comunitária, solidária e cooperativa, uma contradição silenciosa cresce dentro das igrejas: o enfraquecimento do cooperativismo entre os próprios cristãos. Em muitos contextos, a impressão é clara e desconfortável — o crente confia na oração do irmão, mas não confia no serviço ou no produto que ele vende.

Essa realidade levanta uma pergunta incômoda: por que o cristão, que compartilha da mesma fé, do mesmo altar e do mesmo discurso de comunhão, hesita tanto em fortalecer economicamente o irmão em Cristo?


A Igreja Primitiva: Um Modelo Esquecido

No livro de Atos, a igreja nascente é descrita como um corpo unido não apenas espiritualmente, mas também materialmente:

“Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum” (Atos 2:44).

A fé se expressava em ações concretas: partilha, apoio mútuo e responsabilidade coletiva. O sustento não era visto como algo mundano, mas como parte da vida espiritual. Hoje, porém, esse modelo parece distante da prática cotidiana de muitas comunidades cristãs.


A Desconfiança Velada Entre Irmãos

Um dos fatores centrais da falta de cooperativismo é a desconfiança interna. Muitos cristãos preferem contratar serviços ou comprar produtos de desconhecidos no mercado secular do que apoiar alguém da própria igreja.

As justificativas variam:

  • “Não quero misturar fé com negócios”
  • “Tenho medo de conflitos”
  • “E se der errado?”

O problema é que, na prática, essa postura cria uma contradição: confia-se mais no estranho do que no irmão de fé. Isso enfraquece laços, gera frustração e mina o testemunho cristão na sociedade.


Espiritualização Excessiva e Negligência Prática

Outro ponto crítico é a falsa separação entre o espiritual e o material. Muitos cristãos são ensinados a orar por prosperidade, mas não a praticar princípios bíblicos de economia solidária.

O resultado é uma espiritualidade desconectada da vida real, onde se pede bênção financeira, mas se ignora o poder do apoio mútuo. A Bíblia, no entanto, não espiritualiza a pobreza nem demoniza o trabalho — ela dignifica ambos quando vividos com justiça, ética e amor ao próximo.


O Individualismo Cristão Moderno

Influenciado pela cultura de mercado e pelo consumismo, o cristão contemporâneo muitas vezes age mais como consumidor do que como membro de um corpo. A lógica do “melhor preço” e da “vantagem pessoal” se sobrepõe ao princípio bíblico de edificação mútua.

Esse individualismo disfarçado de prudência financeira corrói a comunhão e transforma a igreja em um espaço de encontros semanais, mas não de vida compartilhada.


Comprar do Irmão Também é Testemunho

Apoiar o negócio de um irmão em Cristo não é favoritismo cego, nem obrigação religiosa. É uma escolha consciente, baseada em valores do Reino: justiça, comunhão, responsabilidade e amor prático.

Quando cristãos fortalecem uns aos outros:

  • negócios se tornam testemunhos,
  • famílias são sustentadas,
  • a fé deixa de ser apenas discurso.

Jesus foi claro ao dizer que o mundo conheceria Seus discípulos pelo amor — e esse amor também se manifesta nas decisões econômicas do dia a dia.


Um Chamado à Consciência Cristã

A falta de cooperativismo no mundo cristão não é apenas um problema econômico; é um sintoma espiritual e cultural. Recuperar a visão bíblica de comunidade exige mais do que palavras bonitas no púlpito — exige decisões práticas fora dele.

Talvez seja hora de o cristão se perguntar:
se não posso confiar no irmão para comprar, vender ou cooperar, que tipo de comunhão realmente estamos vivendo?

O Reino de Deus não se constrói apenas com orações, mas também com atitudes.


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